Fiz a maratona do porto em menos de 4 horas

Conheci o Tiago no dia 1 de Outubro de 2014, ele veio a Lisboa em trabalho e porque é amigo do Ricardo fez um treino connosco, após o treino lançou-me um desafio e eu não consegui dizer que não. No dia 2 de Novembro recebi uma mensagem do Tiago a dizer “…3:53”, festejei! O que se segue é o seu testemunho.

“A 1 mês e uma semana da Maratona do Porto, tive a felicidade de conhecer o Pedro Almeida num treino que fiz com um amigo comum. No final do treino, com o qual fiquei muito bem impressionado, o meu amigo disse ao Pedro que eu gostaria de fazer a Maratona, mas como não tinha treinado quase nada estava pouco confiante para conseguir fazer a prova, com um pequeno grande pormenor: Conseguir acabar a prova em menos de 04h00. O Pedro, disse-me que era possivel e lançou-me o desafio. “Vamos a isso?”

Confesso que fiquei empolgado com o entusiasmo dele, mas ainda algo cético, quanto a treinar a 300 km de distancia, uma vez que eu estava no Porto e o Pedro em Lisboa. Os primeiros passos foram enviar ao Pedro algumas informações a nivel fisico para que ele pudesse estruturar o plano e a partir da 2ª feira seguinte começavamos o plano. Dito e feito, o Pedro enviou-me o plano por e-mail e a seguir ligou-me. Ainda bem que o fez pois fiquei completamente arrepiado. Tinha de treinar quase todos os dias, desde corrida, ao reforço muscular, treino de corrida intervalada e apenas descansava um dia. No final da primeira semana, já estava completamente estourado e fiz questão de partilhar essa ideia com o Pedro. Nessa altura ele relembrou-me que seria importante fazer a suplementação e reforço de magnésio até ao dia da prova. Não sei se foi o efeito Placebo, mas na verdade por momentos senti-me melhor. Entretanto quer a nivel pessoal, quer a nivel profissional, andava com imenso stress e com muito pouca disponibilidade para treinar e achava que com toda esta conjugação de fatores me iriam impedir de chegar ao objetivo. Para além disso quer a minha familia, quer os meus amigos que andavam a treinar à meses, me diziam que não era impossivel, mas que seria muito dificil de o conseguir. Confesso que comecei a desanimar, mas mais uma vez o “Guru”, falou comigo e de forma muito pragmática me disse que “Estás a fazer tudo bem! Estás a levar o teu corpo aos limites e é natural que te sintas cansado. Não desistas! Acredita, pois eu acredito que vais conseguir!” Esta injeção de motivação levou-me a que fosse correr á chuva, ao sol, treinar em casa enquanto a minha familia estava a jantar e eu a vê-los, sendo que no final ainda saía de casa para ir correr e via os craques todos a passarem por mim como “balas”.

Nos treinos de corrida havia dias em que conseguia alcançar os objetivos traçados e outros em que ficava muito àquem do pretendido. As pernas não davam mais e a cabeça não ajudava. A 15 dias da prova tive de fazer um treino de 32 km. Saí de manhã bem cedo e arranquei. Estava a sentir-me bem e a fazer parte do percurso da Maratona, subitamente aos 25 Km o meu corpo implodiu. Foi de tal forma que tive engolir um sapo do tamanho de uma casa e pedir à minha mulher para me vir buscar de carro, pois não conseguia fazer o regresso. O meu orgulho ficou afetado e a minha confiança completamente arrasada. Foi neste momento em que pensei desistir do objetivo, pelo menos para já. No dia seguinte não consegui treinar, até caminhar me custava, por isso optei por descansar. Na segunda-feira o Pedro ligou-me para saber como tinha corrido o treino. Percebi que ele sabia exatamente o que poderia acontecer, mas continuava a testar-me para perceber até onde poderia chegar. A fadiga era notória e fazia parte do plano para que os resultados aparecessem.

Para além do treino, comecei a levar muito a sério o plano alimentar. Também aqui vos confesso que abdicar daquelas coisas boas que comemos não é fácil, mas foi apenas uma questão de ajustar o plano alimentar e a habituação do organismo fez o resto.

Nos 3 dias que antecederam a prova optei por dar mais descanso ao corpo. Neste mês já tinha feito mais de 200 km complementados por reforço muscular e nesta ultima semana, com o rigor alimentar dos primeiros dias foi mais dificil. Para terem uma ideia na quarta-feira ao jantar quando pude comer massa, parecia que estava a comer um cozido á portuguesa, mesmo!!!

Sexta-Feira de manhã o Pedro ligou-me e falamos acerca da semana e de como me estava a sentir. Óbviamente revelei-lhe todos os meus medos e angustias e perante todos estes obstáculos estava ansioso por saber qual seria a estratégia de corrida. Apesar de ele ter previsto dizer-me apenas no Sábado qual o plano para abordar a prova, deu-me a sua opinião quanto ao que deveria fazer.

“Então é assim, para acabares a prova no tempo que definimos, vais ter de arrancar muito rápido, a cerca de 5:00″ / Km, e vais ter de ir o mais longe possivel a esta velocidade, pois vais rebentar entre os 25km e os 30 km. A partir daí tens de baixar o ritmo e sofrer até ao final. Não podes parar, mas se fizeres isto vais conseguir. Agora és tu e a tua cabeça, mas eu acredito que vais conseguir, pois fizeste tudo o que estava ao teu alcance para tal! Se não conseguires continuamos a tentar, mas eu acredito mesmo que vais conseguir”- dizia ele. Não sei se fiquei sem falar, mas que não estava a contar ouvir aquilo, não estava. Definimos alguns pormenores da alimentação e a partir dali seria descansar bem para estar preparado para enfrentar “O Homem da Marreta” que iria aparecer na prova por volta dos 25 km, isto se eu aguentasse até lá.

Sábado, acordei bastante cedo e fui levantar o dorsal com o meu cunhado. O rapaz só professor de Educação Fisica, campeão Nacional de Pentatlo M40 e ficou em 7º No Nacional de trail este ano também em M40.

Ele ia fazer os 16 km e eu os 42 km, e só brincava comigo a dizer que corria os primeiros 16 k e depois dava-me o dorsal para fazer o resto. Trouxe-me uma série de ajudas desde, alimentação a umas perneiras “super-trendy” que foram a risota da maratona. Para ajudar á festa dei um jeito nas costas a levantar um peso que me atormentou durante todo o dia… e noite. A minha mulher disse-me que estive toda a noite a gemer com dores.

Domingo 02 de Novembro. Acordei ás 06h30 para me preparar. Depois de tomar banho quando me fui vestir não conseguia calçar as meias. As dores eram tantas que estive quase para desistir. A razão diziaçme para não o fazer mas a emoção dizia-me que agora não poderia fazê-lo. A muito custo preparei-me e saí de casa. encontrei-me com os meus companheiros de prova que tinham objetivos muito especificos : fazer a prova abaixo das 3h45. Fui completamente carregado de munições (Passas, gel, água, mel, magnesio, etc…) e as dores também lá estavam. Só lhes dizia que se conseguisse que as dores passassem das costas para as pernas iria conseguir fazer a prova.

Avançamos para a partida e entramos para o grupo da frente (apesar de não termos o dorsal com essa indicação). Saímos muito rápido, o meu primo parecia uma bala e eu e o Pedro fomos atrás dele. Tinhamos 6 km, para dar um bom avanço. Curiosamente fui eu quem marquei a passada e chegamos a correr abaixo dos 5.00″ / km, estava-me a sentir bem e muito bem disposto, já tinha inclusivamente esquecido as dores nas costas. Eles diziam que eu estava muito rápido e que iria pagar a fatura, mas na verdade só me lembrava das palavras do Guru “VAI RÁPIDO O MAIS LONGE POSSIVEL!”.

Aos 20 km, o meu joelho começou a queixar-se, mas estava dentro dos objetivos. Até aos 28 km não abrandamos, apesar de eles dizerem que estávamos a correr muito rápido. Nessa altura disse ao Pedro para se ir embora pois ia conseguir. Passados 2 Km foi a vez do Miguel, que apesar de estar a esgotar estava melhor do que eu. Olhei para o relógio e vi 03:39:45,já podia baixar o ritmo pois se conseguisse gerir o esforço sem parar era possivel acabar a prova abaixo das 4 horas. O “Guru” estava certo. Aproveitei tudo o que pude, fui me refrescando, hidratando e comendo tudo o que aparecia par ter energia para os ultimos 12 km. Sofri bastante é um facto, mas quando cheguei aos ultimos 2 km e entrei na subida para a meta a correr ainda abrandei. Depois comecei a ver o Pórtico de chegada e no ultimo km fui buscar força para acabar a correr e terminar a prova em 3:53:33, menos 6:27″ do que tinha estabelecido como objetivo.

No final só me lembro de terminar a chorar de emoção e com sentido de dever cumprido. Valeu a pena todo o esforço, dedicação, dores e angustias pelas quais passei. Provei a mim mesmo e a quem tinha duvidas que era possivel. Foi INCRIVEL !!!!

O Miguel conseguiu a fantástica marca de 3:50:15 e o Pedro a incrivel marca de 03:42:50, fomos gigantes. Acredito que se não tivéssemos ido tão rápido no inicio não teria sido possivel chegar a estas marcas.

Obrigado amigo Pedro Almeida por sempre acreditares e por me teres ajudado a acreditar.

O treino em casa resulta, mesmo!

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O Tiago é a prova de que com dedicação e resiliência é possível atingir resultados. A distância não é desculpa.

Muito obrigado Tiago por teres confiado e acreditado em mim.

O acompanhamento à distância foi feito com recurso ao programa performance do Treino Virtual 

www.treino-virtual.com